terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Além do Bem e do Mal




Do ilimitado surgem inúmeros mundos, e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir do ilimitado é explicada através da separação dos contrários em consequência do movimento eterno. Para Anaximandro o princípio das coisas - o arché - não era algo visível; era uma substância etérea, infinita. Chamou a essa substância de apeíron (indeterminado, infinito). O apeíron seria uma “massa geradora” dos seres, contendo em si todos os elementos contrários. Anaximandro tinha um argumento: o ar é frio, a água é úmida, e o fogo é quente, e essas coisas são antagônicas entre si, portanto o elemento primordial não poderia ser um dos elementos visíveis, teria que ser um elemento neutro, que está presente em tudo, mas está invisível.
... uma unidade primordial, da qual nascem todas as coisas e à qual retornam todas as coisas.

Anaximandro de Mileto[1] (611-547 a.C.) 



Da Unidade Primordial surge a multiplicidade e a Ela retorna.
Assim como de Deus surgiu toda a Criação também Nele será seu final.
A convivência com os contrários serve para a experiência da vida e principalmente para o exercício do livre-arbítrio. São nas escolhas que se diferem as pessoas, que percebemos seu caráter e mérito.
A chamada “Guerra entre o Bem e o Mal” nada mais é do que o resultado de uma interpretação equivocada, uma consciência limitada da vida e seus ensinamentos para nós.
Há pessoas que abominam a chamada “mão esquerda”. Então, porque estas pessoas não amputam seus braços e mãos esquerdos? Houve tempo em que a mulher era sinônima do mal. Será que estaríamos aqui hoje se muitas mulheres não tivessem sobrevivido a esta ideia equivocada? Aqueles que ainda pensam assim (que a mulher é um agente do mal) estão dispostos a remover total e absolutamente a mulher de suas vidas, como pregam? Estarão eles dispostos a se afastar de sua mãe, irmã, esposa, filha? Talvez para estas pessoas seja conveniente se mudar de país porque o Brasil no momento é presidido por uma mulher!
Na Física atômica sabemos que a união ou fusão entre o próton (carga positiva) e o elétron (carga negativa) resulta em um nêutron (carga neutra). Da mesma forma, o uso da eletricidade só ocorre se promovermos de alguma forma o encontro entre os polos positivo e negativo: acendendo uma lâmpada, fazendo girar um motor, etc.



Organicamente falando temos dois hemisférios cerebrais e o coração é dividido em duas partes por um septo. Exigem órgãos que são duplos: ouvidos, pulmões, rins. Será que aqueles que renegam o “lado esquerdo” estão dispostos a abrir mão do lado esquerdo destes órgãos? Afinal, não foi Deus que assim os fez? Será que estes que condenam o lado esquerdo se julgam melhores, mais inteligentes, mais espertos e mais perfeitos do que Deus?
Como seria possível se ver as estrelas se não houvesse a escuridão? Como seria possível ouvir a beleza de uma música se não houvesse o silêncio entre suas notas musicais? Como seria possível distinguir as formas, enxergar algo, se não houvesse as sombras? Como seria possível nos locomovermos se não existir o que nos parece imóvel?
Em termos de Física é impossível separarmos a eletricidade do magnetismo. São forças ortogonais sim, mas inseparáveis. Da mesma forma não se separa homem de mulher, luz de sombra, etc. Na verdade são as duas faces de uma só verdade, de uma mesma moeda.
Quem condena os efeitos do suposto “mal” não percebeu que é exatamente da alternância entre os opostos que a vida se mantém. Observe nosso andar. Se estivermos sempre em equilíbrio não existe caminhar, ficaremos fixos, parados eternamente. Mas, se nos desequilibrarmos um pouco e formos alternando nossas pernas esquerda e direita, bem aí sim haverá um caminhar.
É interessante observar que a humanidade deu grandes saltos em momentos que supostamente imperava o “mal”: as guerras.
Na saúde a malvada dor nada mais é do que um alerta nos avisando de que algo está errado, em desarmonia, no organismo e que devemos tomar alguma atitude.
Muitos gostariam de viver sem dor, sem o mal, sem as trevas, etc. Se assim Deus lhes permitisse seriam pessoas imperfeitas, sem possibilidade de evolução ou crescimento. Estas pessoas viveriam em um dia eterno, sem noite; caso se machucasse não o saberiam e poderiam morrer em consequência de coisas simples, viveriam isoladas de tudo e de todos na falsidade de uma ilusão de perfeição; estas pessoas não veriam nada porque tudo seria uma luz cegante; não se locomoveriam, não ouviriam nada ....
Eu prefiro poder ver as estrelas, ouvir uma boa música, ter a noite para dormir na companhia da mulher amada e saber que ainda posso evoluir muito, crescer e aprender.

'Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.'
(Nietzsche)

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