quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Afinal, o Mal não existe?

A ideia de que o Bem e o Mal lutam em iguais condições é equivocada, como já vimos anteriormente. De um ponto de vista monoteísta não é possível a existência de dois deuses, um do Bem e outro do Mal. Existe somente um Deus que está acima do Bem e do Mal.
Deus então seria somente o Bem e o Mal então não existe? E o que vemos diariamente nos jornais, nas ruas e na televisão, não é maldade suficiente?
A dualidade (seja Bem e Mal, masculino e feminino, positivo e negativo, luz e trevas) surge a partir da Criação quando os Elohin separaram a Luz das Trevas do Caos Primordial. No livro de Gênesis da Bíblia, cap I, versículos 3, 4 e 5 está:
“E disse Deus: Que haja Luz, e houve Luz. E viu Deus que era boa a Luz e fez Deus a separação entre Luz e Trevas. E Deus chamou à Luz Dia e às trevas chamou Noite...”
Observemos que Deus criou a Luz e as Trevas são consequência de uma separação. Por outro lado, observemos também que com esta separação surgiu o dia e a noite, tão necessárias para a manutenção da vida, ou seja, a ação e o repouso.
Santo Agostinho[1] (354 – 430 d.C) já afirmava que o ódio (escuridão) não é uma força que se opõe à Luz, mas sim a ausência desta Luz:
A concepção que Agostinho tem do mal, esta baseada na teoria platônica, assim o mal não é um ser, mas sim a ausência de um outro ser, o bem. O mal é aquilo que "sobraria" quando não existe mais a presença do bem. Deus seria a completa personificação deste bem, portanto não poderia ter criado o mal.
No diálogo com seu amigo Evódio, Agostinho tenta explicar-lhe que a origem do mal está no livre-arbítrio concedido por Deus. Deus em sua perfeição, quis criar um ser que pudesse ser autônomo e assim escolher o bem de forma voluntária. O homem, então, é o único ser que possuiria as faculdades da vontade, da liberdade e do conhecimento. Por esta forma ele é capaz de entender os sentidos existentes em si mesmo e na natureza. Ele é um ser capacitado a escolher entre algo bom (proveniente da vontade de Deus) e algo mau (a prevalência da vontade das paixões humanas).[12]
... Deus, portanto, não é o autor do mal, mas é autor do livre-arbítrio, que concede aos homens a liberdade de exercer o mal, ou melhor, de não praticar o bem.
O Mal ou as Trevas nada mais é do que a ausência do Bem ou da Luz.
Pensemos no Bem como se fosse algo que une as coisas e as pessoas, como o Amor, ou mesmo como algo semelhante a uma cola ou cimento. A ausência desta força de união ou coesão resulta na dispersão, na fragmentação, na multidão. Em última instância, o extremo Mal é a absoluta ausência de união ou coesão e, portanto, na total e absoluta dispersão de forma a não existir na forma de uma personalidade, individualidade e muito menos de uma divindade. Pense em uma massa de pedreiro sem cimento. O que resulta? Isso poderia edificar uma casa, um muro ou coisa útil? Não! Seriam apensas areia e cal misturada e que seriam levadas pelo vento ou pela chuva assim que estas ocorressem, sem qualquer resistência.
Pensemos no Bem como fonte de calor. Quanto mais nos afastarmos desta fonte menos calor teremos e assim estaríamos cada vez mais próximo do frio absoluto? Não! O frio absoluto ou zero grau kelvin é apenas teórico, ele não existe porque não existe um ideal ou perfeição de frio. No zero grau kelvin, para se ter uma ideia do que poderia ser, nem os elétrons se movimentam em torno do núcleo do átomo.
Tudo da vida ou na Criação é dinâmico, tem movimento e tem vida. Tudo que se afasta da vida teoricamente se aproxima da morte, mas mesmo na morte existe vida (como os vermes, bactérias e semelhantes que agem apodrecendo o cadáver para que a Natureza continue seus ciclos).
Ou seja, o Mal como o pensamos normalmente, não existe. Não existe uma fonte de Maldade, de Trevas, de “não movimento”.
Não é possível invadir a Luz com a escuridão, mas o inverso é possível. A Luz, o Amor e a vida são soberanos, pois existe uma fonte para eles.
Por mais que exista uma maldade, nela existirá vida, verdade e luz, pois se fosse o contrário, se não existissem nela vida, verdade e luz ela simplesmente não existiria. Ou seja, como dizem os religiosos, por mais que a pessoa esteja desviada da Luz, do Amor , da Verdade e da Justiça sempre existirá uma chama interior que poderá ser revivida, estimulada. Sempre haverá esperança para a Luz.

Nenhum comentário:

  Qual a diferença entre Tarot e Astrologia?   Com mais de 40 anos de exercício profissional, percebi que é comum as pessoas não saberem...