Mensagem de Samhain – 2015 –
Hemisfério Sul
Desde tempos imemoriais o ser
humano se depara com a incompreensão quanto às distintas características entre
os ritos da Terra e o Celeste. Esta incompreensão resultou em competição,
perseguições, muito sofrimento e dor, apesar da essência de ambas ser o amor, a
paz e a harmonia. Esta desarmonia, por exemplo, ficou evidenciado no conflito
entre o Matriarcado e o Patriarcado. Agora a humanidade está madura o
suficiente para compreender a real natureza e benefícios de ambos os ritos que
não são antagônicos, ao contrário eles se complementam em benefício da evolução
e da harmonia universal.
O mito bíblico de Adão e Eva retrata bem esta questão entre
o Sagrado Feminino e o Sagrado Masculino. O Feminino Planetário, assim como Kundalini
atrai a manifestação de Fohat, levou o Masculino Celeste a se manifestar no
plano físico de nosso planeta. Assim, este Masculino Celeste semeou a Terra com
sua luz, ciência estelar e liberdade. A Terra então concebeu a Luz e a Luz
ganhou um corpo e com este corpo o direito para se deliciar com as sensações
que só existem aqui.
Mas, a incompreensão, a inconsciência e a imaturidade
terrestre não compreendeu assim. O homem promoveu uma verdadeira guerra entre o
Rito Terrestre (ou sub-Lunar) e o Celeste, ou Estelar (o Rito de Luz ou Solar,
pois toda estrela é também um sol).
O Rito da Mãe Terra ou Lunar é o Rito da Natureza e por
característica intrínseca não possui uma organização, ordem ou estrutura
rígidas; é marcado pelo afeto, pelo sentimento, pela busca da harmonia, da
saúde e da manutenção da vida material. Ele se manifestou na forma do
politeísmo que respeita todos as formas de manifestação espiritual na forma de
deuses. O Rito Lunar tem por natureza a transitoriedade, por respeitar e
retratar os ciclos da natureza que a tudo muda e ao mesmo tempo perpetua. Da
compreensão deste fato surgiu o conceito da reencarnação, conhecido como
“transmigração das almas”. Segundo este conceito de reencarnação a alma
sobrevive à morte do corpo físico e reencarna em outro corpo para novas
experiências no plano físico visando o aprimoramento da alma.
O Rito Celeste ou Estelar (ou Solar) é o Rito da Luz e sua
característica é a organização, a estrutura e a ordem rígidas, definidas e
eternas; é marcado pelo conhecimento, pela ciência, pela busca da evolução, da
iluminação e realização da vida espiritual. Ele se manifestou na forma do
monoteísmo que reconhece sempre uma fonte ou origem única de toda a Criação. Da
compreensão da divindade única surgiu o conceito de “vida eterna”, porém sem
retorno ao plano físico. Conforme este conceito o ser sobrevive à morte física
e tem uma vida eterna nos planos espirituais, conforme seus méritos adquiridos
na vida terrena.
Enquanto o Matriarcado prevalecia, por sua natureza pacífica
e ecumênica, o Rito Celeste era tolerado e respeitado e existia juntamente com
as demais manifestações de espiritualidade ou religiões. Porém, quando o
Patriarcado, no natural ciclo de troca de poder, tomou o poder passou a
perseguir as formas de manifestação do Rito Lunar e também seus sacerdotes e
sacerdotisas. O Feminino então passou a ser sinônimo de tudo o que era errado,
feio, pecado, involutivo e contra a espiritualidade solar. Isso decorreu tanto
por ignorância ou compreensão da natureza pacífica e contemplativa do Rito
Lunar, quanto por ignorância e compreensão da natureza do próprio Rito Solar
que é de amor, consciência, vida, tolerância, paz e saúde.
Os sacerdotes “solares” conceberam o Rito Solar na forma de
religiões e escolas esotéricas não com a consciência solar, mas sim com a
consciência lunar. O resultado foi algo transfigurado, desvirtuado, equivocado
e desarmônico. Era necessário que os líderes solares tivessem atingido a
verdadeira iluminação, tivessem obtido a conexão e sua consciência estelar,
para poder falar, decidir, julgar e comandar em nome de uma divindade Única.
Mas, eles galgaram o poder, falando em nome de um deus solar porém sem a
consciência deste, mas somente com suas consciências pessoais, lunares e
temporais. Na verdade é muito provável que os fundadores de religiões e escolas
solares tivessem sim atingido a iluminação ou pelo menos se aproximaram dela,
mas quando deixaram de existir no físico seus seguidores, fiéis e discípulos
desvirtuaram a mensagem e o propósito originais e é isso que vemos e
experimentamos hoje em dia.
Os sacerdotes solares então buscaram perpetuar seu poder
temporal ou material, não compreendendo que eram e são materiais e o poder
material segue um ciclo de alternação de poder e nem mesmo compreendendo que o
poder espiritual tem por característica a total e absoluta doação e abnegação
de controle ou domínio, tendo como razão de existência o compromisso em
contribuir com a vida e a manutenção da mesma. O mistério solar é naturalmente
irradiante, protetor, abnegado e de doação completa e absoluta, jamais de
controle e poder centralizado. É como o sol que irradia sua luz e calor sem
nada esperar ou cobrar nada de ninguém. Ele simplesmente existe em benefício da
vida ao seu redor.
O interesse político se apoderou do conceito solar de Fonte
Única Espiritual Eterna para impor através da religião, ao povo, a ideia de
submissão a um único poder material e temporal. Assim, do Mitraísmo surgiu o catolicismo
romano que sustentou imperadores e papas. Então, a mensagem solar ao invés de
incentivar a realização pessoal foi subvertida para gerar medo, dependência,
inconsciência para a grande maioria ao mesmo tempo que também gerou poder
centralizado e controle para um pequeno grupo. Do catolicismo surgiram as
religiões evangélicas com os mesmos moldes de sua origem.
A Grande Deusa Lunar então virou, pela consciência lunar dos
sacerdotes solares do deus único, a Grande Prostituta. Apesar disso, como estes
sacerdotes perceberam o poder da Deusa e sua influência à alma e à consciência
da população, se apossaram dos melhores atributos da tradição lunar e criaram
uma personagem feminina representando a Virgem. Conseguiram em um jogo de
palavras e conceitos intencionalmente manipulados colocar o Feminino Terrestre
contra si mesmo. Este foi um ato de malícia e astúcia digno daquilo que
difundem como sendo a origem do Mal que é a sombra da luz solar, mas este Mal
foi projetado no aspecto “Prostituta” da Deusa. O consorte da Grande Deusa, o
Deus natural dos bosques e matas, na mente dos sacerdotes “solares”, carente da
verdadeira luz, foi transformado então na figura do Diabo. Assim, do deus celta
Cernunos nasceu a figura do diabo, com chifres, rabo e cascos.
Em sua ânsia de desmerecer, degradar e denegrir qualquer
conceito possível de divindade feminina verdadeira, até mesmo o aspecto
estelar, celeste ou solar do Feminino Universal, até este aspecto feminino foi
travestido de maldade, malícia, maledicência, etc. em uma constante campanha
difamatória que já perdura por milênios, mesmo antes do advento de Jesus. A deusa
antes origem da alegria, do prazer, da prosperidade, da abundância, da saúde e
do afeto foi transformada na devoradora de crianças, na caçadora de almas, em
sinônimo de maldade e grave perigo, até mesmo de perdição total. Tudo isso para
vender a ideia de que todos somos “culpados”, malditos e “pecadores” e a “salvação”
só existe por parte do Deus Único. Mas, o problema é a alma lunar dos
sacerdotes solares conceberam diversos deuses únicos: Jeová (dos judeus,
católicos e evangélicos), Alá (dos muçulmanos), Aton (de Akenathon), Ahura
Mazda (de Zoroastro), Brahma (dos indus) e Sat Nam (dos Sikhis). E, estes “deuses
únicos”, na alma de seus sacerdotes, não se entendem e lutam entre si para
obter a supremacia sobre os outros, tanto deuses únicos solares quanto os
demais lunares.
A própria ciência, que é voltada absolutamente para a
matéria da natureza, é manipulada pelas consciências lunares de cientistas
(teoricamente solares) para abjurar o rito lunar, a fé, a religião, o
ecumenismo, a compreensão e a aceitação dos cultos e ritos terrestres.
Este é o cenário com o qual hoje nos deparamos em termos de
religiões e escolas esotéricas. Existem dificuldades para se compreender as
diferenças, as características naturais de cada rito, suas benesses e como
podem se encontrar harmonicamente.
Se o Rito Lunar (terrestre ou Feminino) pode ser
representado por uma serpente que morde a própria cauda (como a famosa
Ouroboros), o Rito Solar ou Estelar pode ser representado por uma reta vertical
de manifestação e evolução concomitantes. Este Rito é uma via de mão dupla que
tanto traz a consciência solar para o plano físico como também eleva a
consciência física até os infinitos estelares. Um símbolo muito antigo do
encontro harmônico destes dois ritos é a conhecida cruz. Porém, o ponto de
encontro entre o traço horizontal que simboliza a consciência e a
espiritualidade lunar ou material com o traço vertical do espírito estelar ou
solar é muito importante. Os braços laterais (lunares) devem estar equilibrados
e simétricos, representando o equilíbrio físico, a harmonia material, psíquica,
emocional e orgânica. Da mesma forma, no traço vertical o ponto de encontro
representa o nível de consciência estelar ou solar, se for baixa a cruz fica “invertida”,
com os braços em baixo. Mas, se o nível de consciência solar ou estelar estiver
em seu ponto mais elevado, então forma-se a Cruz Tau. A Cruz Tau é a mais
antiga forma de cruz que existe. Encimada pelo círculo, símbolo do espírito
perfeito e eterno a Cruz Tau se transforma na Cruz Ankh dos antigos egípcios. A
cruz Tau encimada por um círculo também é o símbolo astrológico do planeta
Vênus em uma alusão óbvia e direta sobre o fato deste planeta ser para nós o
caminho espiritual a ser seguido.
A cruz Ankh egípcia representa
o encontro entre a deusa Isis, que reinava fisicamente sobre o Egito, centro da
culta humana em sua época, com o seus Osíris, que reinava espiritualmente sobre
o mesmo Egito. Por isso a cruz Ankh era o símbolo da Vida Eterna em todos os
sentidos. Ou seja, unificava o conceito lunar da transmigração das almas
(obviamente não com este nome para o povo egípcio) com o de vida eterna
conforme a tradição solar. Ora, o “encontro” entre Isis e Osíris gerou o “filho
divino” Hórus. Hórus é então a representação da divindade que resulta do
encontro dos ritos lunar e solar, terrestre e estelar, que ocorre nos “domínios”
ou regência de Vênus, a Deusa do Amor, da Vida Eterna, da Harmonia, da Beleza,
e que todos podemos realizar.
Uma outra forma de se representar graficamente o encontro
deste dois ritos e suas tradições retrata muito bem a grande verdade espiritual
de nossa humanidade. É o encontro do círculo horizontal, representando os
ciclos de vidas nos planos mais densos ou físicos da Criação, em “movimento”
também ascendente (ou descendente) formando então uma espiral. Esta representação
é facilmente encontrada nos ensinamentos teosóficos acerca das sucessivas vidas
que ocorrem nas rondas e cadeias planetárias. Observe-se que este não é um
conhecimento recente, mas que existe há milênios. Porém, antes era de acesso e
compreensão apenas de um pequeno grupo de pessoas despertas ou iluminadas, mas
que agora está aberto para todos.
Cada vez mais pessoas estão abrindo sua mente e alma para as
verdades eternas que iluminam a humanidade. O nível de consciência coletiva está
aumentando e já estamos no horizonte do surgimento de uma nova cultura, uma
nova sociedade, uma nova consciência que não só conviva conscientemente com os
verdadeiros ritos lunar e solar como também se beneficie do que de melhor eles
podem nos proporcionar, promovendo a harmonia tanto no plano físico e social,
quanto no plano cósmico e espiritual.
Juarez de Fausto Prestupa
Academia Ciência Estelar
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