segunda-feira, 4 de maio de 2015

A união do Rito Lunar com o Rito Solar

Mensagem de Samhain – 2015 – Hemisfério Sul

Desde tempos imemoriais o ser humano se depara com a incompreensão quanto às distintas características entre os ritos da Terra e o Celeste. Esta incompreensão resultou em competição, perseguições, muito sofrimento e dor, apesar da essência de ambas ser o amor, a paz e a harmonia. Esta desarmonia, por exemplo, ficou evidenciado no conflito entre o Matriarcado e o Patriarcado. Agora a humanidade está madura o suficiente para compreender a real natureza e benefícios de ambos os ritos que não são antagônicos, ao contrário eles se complementam em benefício da evolução e da harmonia universal.



O mito bíblico de Adão e Eva retrata bem esta questão entre o Sagrado Feminino e o Sagrado Masculino. O Feminino Planetário, assim como Kundalini atrai a manifestação de Fohat, levou o Masculino Celeste a se manifestar no plano físico de nosso planeta. Assim, este Masculino Celeste semeou a Terra com sua luz, ciência estelar e liberdade. A Terra então concebeu a Luz e a Luz ganhou um corpo e com este corpo o direito para se deliciar com as sensações que só existem aqui.



Mas, a incompreensão, a inconsciência e a imaturidade terrestre não compreendeu assim. O homem promoveu uma verdadeira guerra entre o Rito Terrestre (ou sub-Lunar) e o Celeste, ou Estelar (o Rito de Luz ou Solar, pois toda estrela é também um sol).



O Rito da Mãe Terra ou Lunar é o Rito da Natureza e por característica intrínseca não possui uma organização, ordem ou estrutura rígidas; é marcado pelo afeto, pelo sentimento, pela busca da harmonia, da saúde e da manutenção da vida material. Ele se manifestou na forma do politeísmo que respeita todos as formas de manifestação espiritual na forma de deuses. O Rito Lunar tem por natureza a transitoriedade, por respeitar e retratar os ciclos da natureza que a tudo muda e ao mesmo tempo perpetua. Da compreensão deste fato surgiu o conceito da reencarnação, conhecido como “transmigração das almas”. Segundo este conceito de reencarnação a alma sobrevive à morte do corpo físico e reencarna em outro corpo para novas experiências no plano físico visando o aprimoramento da alma.



O Rito Celeste ou Estelar (ou Solar) é o Rito da Luz e sua característica é a organização, a estrutura e a ordem rígidas, definidas e eternas; é marcado pelo conhecimento, pela ciência, pela busca da evolução, da iluminação e realização da vida espiritual. Ele se manifestou na forma do monoteísmo que reconhece sempre uma fonte ou origem única de toda a Criação. Da compreensão da divindade única surgiu o conceito de “vida eterna”, porém sem retorno ao plano físico. Conforme este conceito o ser sobrevive à morte física e tem uma vida eterna nos planos espirituais, conforme seus méritos adquiridos na vida terrena.

Enquanto o Matriarcado prevalecia, por sua natureza pacífica e ecumênica, o Rito Celeste era tolerado e respeitado e existia juntamente com as demais manifestações de espiritualidade ou religiões. Porém, quando o Patriarcado, no natural ciclo de troca de poder, tomou o poder passou a perseguir as formas de manifestação do Rito Lunar e também seus sacerdotes e sacerdotisas. O Feminino então passou a ser sinônimo de tudo o que era errado, feio, pecado, involutivo e contra a espiritualidade solar. Isso decorreu tanto por ignorância ou compreensão da natureza pacífica e contemplativa do Rito Lunar, quanto por ignorância e compreensão da natureza do próprio Rito Solar que é de amor, consciência, vida, tolerância, paz e saúde.

Os sacerdotes “solares” conceberam o Rito Solar na forma de religiões e escolas esotéricas não com a consciência solar, mas sim com a consciência lunar. O resultado foi algo transfigurado, desvirtuado, equivocado e desarmônico. Era necessário que os líderes solares tivessem atingido a verdadeira iluminação, tivessem obtido a conexão e sua consciência estelar, para poder falar, decidir, julgar e comandar em nome de uma divindade Única. Mas, eles galgaram o poder, falando em nome de um deus solar porém sem a consciência deste, mas somente com suas consciências pessoais, lunares e temporais. Na verdade é muito provável que os fundadores de religiões e escolas solares tivessem sim atingido a iluminação ou pelo menos se aproximaram dela, mas quando deixaram de existir no físico seus seguidores, fiéis e discípulos desvirtuaram a mensagem e o propósito originais e é isso que vemos e experimentamos hoje em dia.

Os sacerdotes solares então buscaram perpetuar seu poder temporal ou material, não compreendendo que eram e são materiais e o poder material segue um ciclo de alternação de poder e nem mesmo compreendendo que o poder espiritual tem por característica a total e absoluta doação e abnegação de controle ou domínio, tendo como razão de existência o compromisso em contribuir com a vida e a manutenção da mesma. O mistério solar é naturalmente irradiante, protetor, abnegado e de doação completa e absoluta, jamais de controle e poder centralizado. É como o sol que irradia sua luz e calor sem nada esperar ou cobrar nada de ninguém. Ele simplesmente existe em benefício da vida ao seu redor.



O interesse político se apoderou do conceito solar de Fonte Única Espiritual Eterna para impor através da religião, ao povo, a ideia de submissão a um único poder material e temporal. Assim, do Mitraísmo surgiu o catolicismo romano que sustentou imperadores e papas. Então, a mensagem solar ao invés de incentivar a realização pessoal foi subvertida para gerar medo, dependência, inconsciência para a grande maioria ao mesmo tempo que também gerou poder centralizado e controle para um pequeno grupo. Do catolicismo surgiram as religiões evangélicas com os mesmos moldes de sua origem.



A Grande Deusa Lunar então virou, pela consciência lunar dos sacerdotes solares do deus único, a Grande Prostituta. Apesar disso, como estes sacerdotes perceberam o poder da Deusa e sua influência à alma e à consciência da população, se apossaram dos melhores atributos da tradição lunar e criaram uma personagem feminina representando a Virgem. Conseguiram em um jogo de palavras e conceitos intencionalmente manipulados colocar o Feminino Terrestre contra si mesmo. Este foi um ato de malícia e astúcia digno daquilo que difundem como sendo a origem do Mal que é a sombra da luz solar, mas este Mal foi projetado no aspecto “Prostituta” da Deusa. O consorte da Grande Deusa, o Deus natural dos bosques e matas, na mente dos sacerdotes “solares”, carente da verdadeira luz, foi transformado então na figura do Diabo. Assim, do deus celta Cernunos nasceu a figura do diabo, com chifres, rabo e cascos.



Em sua ânsia de desmerecer, degradar e denegrir qualquer conceito possível de divindade feminina verdadeira, até mesmo o aspecto estelar, celeste ou solar do Feminino Universal, até este aspecto feminino foi travestido de maldade, malícia, maledicência, etc. em uma constante campanha difamatória que já perdura por milênios, mesmo antes do advento de Jesus. A deusa antes origem da alegria, do prazer, da prosperidade, da abundância, da saúde e do afeto foi transformada na devoradora de crianças, na caçadora de almas, em sinônimo de maldade e grave perigo, até mesmo de perdição total. Tudo isso para vender a ideia de que todos somos “culpados”, malditos e “pecadores” e a “salvação” só existe por parte do Deus Único. Mas, o problema é a alma lunar dos sacerdotes solares conceberam diversos deuses únicos: Jeová (dos judeus, católicos e evangélicos), Alá (dos muçulmanos), Aton (de Akenathon), Ahura Mazda (de Zoroastro), Brahma (dos indus) e Sat Nam (dos Sikhis). E, estes “deuses únicos”, na alma de seus sacerdotes, não se entendem e lutam entre si para obter a supremacia sobre os outros, tanto deuses únicos solares quanto os demais lunares.



A própria ciência, que é voltada absolutamente para a matéria da natureza, é manipulada pelas consciências lunares de cientistas (teoricamente solares) para abjurar o rito lunar, a fé, a religião, o ecumenismo, a compreensão e a aceitação dos cultos e ritos terrestres.
Este é o cenário com o qual hoje nos deparamos em termos de religiões e escolas esotéricas. Existem dificuldades para se compreender as diferenças, as características naturais de cada rito, suas benesses e como podem se encontrar harmonicamente.



Se o Rito Lunar (terrestre ou Feminino) pode ser representado por uma serpente que morde a própria cauda (como a famosa Ouroboros), o Rito Solar ou Estelar pode ser representado por uma reta vertical de manifestação e evolução concomitantes. Este Rito é uma via de mão dupla que tanto traz a consciência solar para o plano físico como também eleva a consciência física até os infinitos estelares. Um símbolo muito antigo do encontro harmônico destes dois ritos é a conhecida cruz. Porém, o ponto de encontro entre o traço horizontal que simboliza a consciência e a espiritualidade lunar ou material com o traço vertical do espírito estelar ou solar é muito importante. Os braços laterais (lunares) devem estar equilibrados e simétricos, representando o equilíbrio físico, a harmonia material, psíquica, emocional e orgânica. Da mesma forma, no traço vertical o ponto de encontro representa o nível de consciência estelar ou solar, se for baixa a cruz fica “invertida”, com os braços em baixo. Mas, se o nível de consciência solar ou estelar estiver em seu ponto mais elevado, então forma-se a Cruz Tau. A Cruz Tau é a mais antiga forma de cruz que existe. Encimada pelo círculo, símbolo do espírito perfeito e eterno a Cruz Tau se transforma na Cruz Ankh dos antigos egípcios. A cruz Tau encimada por um círculo também é o símbolo astrológico do planeta Vênus em uma alusão óbvia e direta sobre o fato deste planeta ser para nós o caminho espiritual a ser seguido.



A cruz Ankh egípcia representa o encontro entre a deusa Isis, que reinava fisicamente sobre o Egito, centro da culta humana em sua época, com o seus Osíris, que reinava espiritualmente sobre o mesmo Egito. Por isso a cruz Ankh era o símbolo da Vida Eterna em todos os sentidos. Ou seja, unificava o conceito lunar da transmigração das almas (obviamente não com este nome para o povo egípcio) com o de vida eterna conforme a tradição solar. Ora, o “encontro” entre Isis e Osíris gerou o “filho divino” Hórus. Hórus é então a representação da divindade que resulta do encontro dos ritos lunar e solar, terrestre e estelar, que ocorre nos “domínios” ou regência de Vênus, a Deusa do Amor, da Vida Eterna, da Harmonia, da Beleza, e que todos podemos realizar.



Uma outra forma de se representar graficamente o encontro deste dois ritos e suas tradições retrata muito bem a grande verdade espiritual de nossa humanidade. É o encontro do círculo horizontal, representando os ciclos de vidas nos planos mais densos ou físicos da Criação, em “movimento” também ascendente (ou descendente) formando então uma espiral. Esta representação é facilmente encontrada nos ensinamentos teosóficos acerca das sucessivas vidas que ocorrem nas rondas e cadeias planetárias. Observe-se que este não é um conhecimento recente, mas que existe há milênios. Porém, antes era de acesso e compreensão apenas de um pequeno grupo de pessoas despertas ou iluminadas, mas que agora está aberto para todos.



Cada vez mais pessoas estão abrindo sua mente e alma para as verdades eternas que iluminam a humanidade. O nível de consciência coletiva está aumentando e já estamos no horizonte do surgimento de uma nova cultura, uma nova sociedade, uma nova consciência que não só conviva conscientemente com os verdadeiros ritos lunar e solar como também se beneficie do que de melhor eles podem nos proporcionar, promovendo a harmonia tanto no plano físico e social, quanto no plano cósmico e espiritual.


Juarez de Fausto Prestupa
Academia Ciência Estelar

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