segunda-feira, 13 de abril de 2015

Politeísmo e Monoteísmo

Houve um tempo em que a religião era a religião da terra, da natureza com seus ciclos e verdades inexoráveis, das quais não se podia fugir ou mesmo contestar. Era a religião do matriarcado, do Feminino Universal, da Grande Deusa, a religião lunar. Esta religião tinha por marca a fé, o amor, a complacência e sua manifestação na forma de diversos cultos distintos, mas complementares. Então havia o deus das montanhas, o deus das matas, dos mares, das cachoeiras, da chuva, do deserto, do fogo, etc. Um deus não era maior nem melhor do que outro, todos convivam em harmonia, circunscritos a suas regiões de adoração. Foi a época do politeísmo. As religiões politeístas (os elementos divinos são personificados com qualidades humanas - o que era antes apenas a Água, um ser de essência espiritual metafísica e sagrada, agora passa a ser representada por uma entidade antropomórfica ou zoomórfica relacionada a água), como a grega, a egípcia, a nórdica e a asteca tiveram suas raízes nas religiões panteístas (acredita-se num grande "Deus-Natureza" - todos os elementos naturais são divinizados, se atribuí "inteligências" espirituais ao vento, a água, fogo, populações animais e etc.) mais antigas e primitivas como o xamanismo, o druidismo e as religiões africanas de raiz.



Então, os humanos conceberam a religião das estrelas, a religião da luz solar. Era a religião do patriarcado, do Masculino Universal, do Grande Deus. A religião solar pressupunha apresentar a luz da verdade que iluminava a tudo e a todos, reduzindo a cinzas os medos, os equívocos, as mentiras, os enganos e as dúvidas. Era a religião da verdade e do conhecimento, então era a religião da ciência. Esta religião tinha por marca um único deus maior, superior, mais potente e mais verdadeiro do que qualquer outro. Era uma religião marcada pela hierarquia, pelo poder centralizado, pela ordem e pela disciplina. A humanidade não estava preparada para compreender a religião estelar e a concebeu dentro dos moldes lunares, como fé (e não ciência) fragmentada (e não unificada) e grupos humanos abraçaram religiões solares patriarcais distintas e se começou a não só perseguir os chamados “deuses menores” do politeísmo como também os outros “supostos” deuses únicos adversários. Surgiram diversos “deuses únicos”, como se isso fosse possível.



Este deus único era a fonte de amor e de unificação, mas apesar disso, com todo este rigor a intolerância religiosa se tornou uma de suas consequências e resultados. Da arrogante intolerância surgiu a perseguição religiosa cega e então os crimes em nome de deuses de amor e as guerras entre religiões que supostamente pregavam a harmonia e a paz. O primeiro exemplo histórico deste embate se deu no Antigo Egito no encontro entre o politeísmo dos sacerdotes de Tebas com o monoteísmo proposto por Akenaton.



A própria forma de nos relacionarmos com seres, forças ou consciências espirituais na forma de religião já é um equívoco por si mesmo. A religião em si é uma forma imatura de se conceber e se relacionar com a espiritualidade, seja ela da Terra, seja ela estelar.



Religiões têm narrativas, símbolos, tradições e histórias sagradas que se destinam a dar sentido coletivo e público à vida ou explicar a sua origem e do universo. Das religiões derivam a moralidade, a ética, as leis religiosas ou um estilo de vida preferido de suas ideias sobre o cosmos e a natureza humana. Ela pressupõe o costume de se venerar ou adorar uma divindade em especial. Religião é uma fé, uma devoção a tudo que é considerado sagrado. É um culto que aproxima o homem das entidades a quem são atribuídos poderes sobrenaturais. Porém, religião é também um conjunto de princípios, crenças e práticas de doutrinas religiosas, baseadas em livros sagrados, que unem seus seguidores numa mesma comunidade moral. Entende-se por doutrina uma forma específica de se conceber ou abordar ou mesmo interpretar um conhecimento, uma sabedoria, uma verdade. Ou seja, a doutrina é algo fragmentado, limitado, personalizado e imperfeito. Uma doutrina é algo muito pequeno para se querer conter uma verdade transcendental e aí é que reside o equívoco da religião, seja ela politeísta ou monoteísta. Pior ainda é que da doutrina advém o dogma, “verdade” definida “por convenção” de supostos doutores doutrinários que não podem ser questionadas em hipótese alguma, pois sobre estes dogmas a religião se sustenta e sem os mesmos ela desmorona.



Ora, se uma verdade espiritual é infinita e ilimitada e não pode ser contida em uma doutrina, muito menos é possível reduzi-la a um dogma, seja ele qual for. Uma verdade espiritual tem por característica a libertação e jamais a escravidão, o infinito, jamais a limitação do finito. A moral que deriva da religião é algo natural do tempo e do espaço e não tem natureza espiritual (eterna e imutável), ela é definida por quem detém o poder hegemônico e que codifica a seu interesse o que é “moda” ou prevalece dos costumes socialmente aceitos pela maioria em uma sociedade. Se esta sociedade é inconsciente espiritualmente e comete crimes em nome de seu deus, então estes crimes, por exemplo, são moralmente não só aceitos e tidos como corretos, como também estimulados e valorizados. Ora, nem as religiões politeístas ou as monoteístas em suas origens aprovam ou estimulam o assassinato, o crime, o desrespeito à vida e à liberdade em todas as sus formas de expressão.



Assim, a humanidade estabeleceu o conflito entre o Feminino Universal e o Masculino Universal, entre a espiritualidade da Terra e a espiritualidade Estelar, entre o sentimento e o conhecimento, entre o hemisfério direito e o hemisfério esquerdo de nosso cérebro.

Nossa humanidade encontra-se divorciada da verdade, seja ela feminina, seja ela masculina, seja ela em termos de sentimento, seja em termos de conhecimento. A verdade, que resulta do encontro harmônico entre sentimento e conhecimento, entre feminino e masculino, entre fé e ciência, entre masculino e feminino está distante da prática moral de nossa sociedade, principalmente da prática religiosa ou científica que deveriam promove-la. Nossa humanidade se encontra em uma situação de esquizofrenia (perda do contato com a realidade em toda a sua plenitude - dificuldade na distinção entre as experiências reais e imaginárias).



Os lugares do amor e da harmonia, que são marcas centrais tanto do politeísmo quanto do monoteísmo são usurpados pelo egoísmo, pela inconsciência e pelo interesse humano em uma infindável disputa sangrenta e insensível por se provar quem está certo sobre quem está errado, qual deus é mais ou melhor. O que deveria ser motivo de união, evolução e harmonia os humanos da Terra usam para disseminar exatamente o contrário.



É chegado o momento para se perceber isso, para perdermos nossa incoerência, para despertarmos para a verdade verdadeira, que não está em nada e em ninguém em particular, mas sim que está em tudo e em todos. Mais ainda, está na hora de compreendermos que a verdade só resulta da união de tudo e de todos, da integração dos fragmentos que atuam de forma sistêmica, em conjunto, em harmonia, seguindo uma sinfonia divina.



Nossas atuais religiões e ciências são acordes dissonantes nesta imensa orquestra que é a Criação. Precisamos unir, respeitando as características individuais, o Masculino e o Feminino Universais, a fé e a ciência, o sentimento e o conhecimento, as cores da luz prismada e as sombras projetadas, a Deusa Natureza e o Deus Intangível. É hora de iluminarmos nossas consciências com a luz da espiritualidade e dirigir nossas personalidades no convívio social comum e corriqueiro, em cada ação, por mais simples que seja.



Juarez de Fausto Prestupa

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