terça-feira, 31 de março de 2015

Carnaval – Uma festa pagã


A maioria das pessoas entra na folia do carnaval desconhecendo sua origem e significado. Deveríamos todos saber sobre a origem das coisas, das festas, das religiões e de nós mesmos. De onde vem essa grande festa? Já parou para pensar de onde vem o carnaval?



 Aparentemente o carnaval é um festival que se originou na Grécia em meados dos anos 600 a 520 a.C. Os gregos realizavam seus cultos através dessa festa, um agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo. Mais tarde os gregos e também os romanos passaram a consumir bebidas, danças e práticas sexuais na festa. Com isso a festa se tornou “pecaminosa” aos olhos da Igreja católica, sendo condenada até 590 d.C., quando a Igreja mudou este rótulo.

 Com o passar do tempo, a Igreja Católica adotou o carnaval do paganismo (assim como todas as outras festas; páscoa, natal, festa junina etc). Passando a fazer parte dos cultos oficiais da igreja, o carnaval era comemorado abolindo os “pecados”, fugindo da real origem que era a alegria e o culto à fertilidade do solo e suas conquistas através da colheita na Terra. Em 1545, durante o Concílio de Trento (também chamado de Concílio da Contrarreforma), o carnaval voltou a ser uma festa popular.
O carnaval surgiu no Brasil por volta de 1723 durante a colonização europeia. No período colonial, uma das primeiras manifestações carnavalescas foi o “Entrudo”, uma festa de origem portuguesa que na colônia era praticada pelos escravos. As pessoas desfilavam e dançavam fantasiadas e mascaradas. Foi no século XIX que os blocos carnavalescos surgiram com carros decorados e pessoas fantasiadas de forma semelhante à de hoje. O carnaval foi adotado pela população brasileira se tornando uma das maiores comemorações culturais do país. Depois surgiram os cordões e ranchos, as festas de salão, os corsos, afoxés, frevos, maracatus, as marchinhas e as escolas de samba.

 O Festival do Carnaval é constituído pelos três dias que antecedem a Quarta-feira de Cinzas, em que se inicia a abstinência quaresmal daí o nome de Carnaval, «adeus, carne». Carnaval vem de "Carna Vale" que significa Carne à Vontade. Para a igreja católica, que adotou o carnaval do paganismo, a palavra carnaval é originária do latim “carnis levale”, cujo significado é retirar a carne. Para ela o significado está relacionado com o jejum que deveria ser realizado durante a quaresma e também com o controle dos prazeres tidos como “mundanos”. É a despedida da "carne" para a purificação na quaresma. O Carnaval é definido contando-se 40 dias "para trás" do dia da Páscoa. Quarenta dias equivale à um ciclo e meio da Lua. Como ela é o símbolo da Natureza significa que é o tempo para uma reciclagem, o suficiente para uma depuração; e ainda, que o meio ciclo restante coloca-a em uma posição sempre exatamente oposta e complementar à que estava no início do ciclo.

 Na tradição esotérica é outra festa importantíssima e necessária. No entanto, houve muitas degenerações em sua celebração. Sua realização tem o objetivo de saciar as necessidades da "carne", ou seja, dos instintos físicos e tridimensionais, e isto é muito diferente da liberação do desejo, que por sua vez é insaciável. No Carnaval é dado ao homem o direito do desfrute total daquilo que a Natureza pode oferecer para logo a seguir preparar-se para a vinda do Pai, para saciar, então o nosso espírito. É necessário este equilíbrio, pois não estamos no Céu e sim na Terra, somos filhos da Terra. Mas também somos filhos do Pai, senhor do domínio celeste. Esta saciedade das reais necessidades de nossa natureza física/emocional deve ser feita de forma a mais consciente possível, muito distante da paixão, da ilusão, do vício e de tudo que nos turve a visão do que está ocorrendo e suas consequências.

 Também existem indícios que o carnaval era praticado na Mesopotâmia e na Babilônia. Possivelmente a festa Babilônica pode ter originado o que conhecemos como carnaval. As “Saceias” eram uma festa em que um prisioneiro assumia durante alguns dias a figura do rei, vestindo-se como ele, alimentando-se da mesma forma e dormindo com suas esposas. Ao final, o prisioneiro era chicoteado e depois enforcado ou empalado. Já a troca de papeis sociais no carnaval, como os homens vestirem-se de mulheres e vice-versa, pode encontrar suas origens na tradição mesopotâmica.
As associações entre o carnaval e as orgias podem ser de origem greco-romana, como os bacanais (festas dionisíacas, para os gregos). São festas dedicadas ao deus do vinho, Baco (ou Dionísio, para os gregos), marcadas pela embriaguez e pela entrega aos prazeres da carne.


Em Roma existiam as festas Saturnálias e as Lupercálias. As primeiras ocorriam no solstício de inverno, em dezembro (no hemisfério norte é o contrário do hemisfério sul) e as segundas, em fevereiro, que seria o mês das divindades infernais, mas também das purificações. Tais festas duravam dias com comidas, bebidas e danças. Os papeis sociais também eram invertidos temporariamente, com os escravos colocando-se nos locais de seus senhores e estes se colocando no papel de escravos. Durante os carnavais medievais por volta do século XI, no período fértil para a agricultura, homens jovens que se fantasiavam de mulheres saíam nas ruas e campos durante algumas noites.

Os povos antigos causavam a inversão do mundo em diferentes manifestações populares. Deus virava Diabo, homem virava mulher, escravo virava rei e assim eram as fantasias do carnaval. Em Roma e Veneza, os participantes usavam a bauta, uma capa com capuz negro que encobria ombros e cabeça, além de chapéus de três pontas e uma máscara branca. Os assírios também realizavam uma celebração parecida com o nosso carnaval de rua atual. No mês de março, a civilização assíria organizava uma festa em tributo à deusa Ísis, divindade de origem egípcia responsável pela proteção dos navegantes. Os seus participantes costumavam utilizar máscaras durante uma procissão em que um carro transportava uma embarcação a ser oferecida para a deusa. No Egito, os rituais eram oferecidos ao deus Osíris, por ocasião do recuo das águas do rio Nilo.

 A quaresma na verdade é o tempo equivalente em que as pessoas com doenças contagiosas ficavam em isolamento. Durante esse período, fazia-se a limpeza e a purificação do lugar onde o doente morava a queimava-se a sua roupa. De início, o isolamento era de trinta dias a chamava-se trintena, mas ele foi depois aumentado para quarenta dias a passou a chamar se quarentena ou quaresma, palavra que usamos até os dias de hoje. Segundo a Igreja católica, o tempo de Quaresma define o período que Moisés esteve no monte aguardando as tábuas da lei e os dias que Jesus passou no deserto, orando e jejuando. Por este motivo, exorta-se os fiéis a obedecer a certos rituais, fazer penitências, dar esmolas, orar e jejuar, tudo em preparação para a Páscoa, o dia em que se celebra a ressurreição de Cristo.

A prática do jejum não se originou com os cristãos, também é uma prática pagã. Os povos primitivos jejuavam antes da colheita e durante certos períodos na primavera e no outono. Jejuavam antes das caçadas, das cerimônias de iniciação e de alguns ritos mágicos (religiosos).

 Segundo o Guinness Book, o carnaval do Rio de Janeiro está atualmente caracterizado como sendo o maior Carnaval do mundo, com um número estimado de 2 milhões de pessoas por dia. Em 1995, o Guinness Book declarou o Galo da Madrugada, da cidade do Recife, como o maior bloco de carnaval do mundo.

 Resumindo: A identidade do carnaval se perde no tempo. Os povos antigos tinham suas festas bem semelhantes ao carnaval que conhecemos hoje. Acreditamos que as práticas semelhantes foram se misturando ao longo do tempo, tornando-se uma coisa só. Até que a igreja católica pegou essa junção e denominou como “carnaval”. Nosso feriado de carnaval é anualmente calculado pela igreja, mas os cálculos são sempre feitos da forma pagã. De fato o carnaval é uma festa alegre onde o pobre pode virar rico, o rei vira escravo, homem vira mulher ou animal, um tempo onde tudo é possível, tudo aquilo que não vemos o ano inteiro e nosso eu profundo tem vontade de fazer e não pode, devido ao status social seja ele qual for. No carnaval máscaras são permitidas e os prazeres da carne são práticas comuns. A origem do carnaval é tão antiga que se perdeu na história das civilizações. Podemos compreender uma coisa; que o carnaval sempre existiu seja ele cristão ou pagão, de uma forma ou de outra, talvez seja uma das festas mais antigas do planeta.


 Por Letícia de Castro

 Academia Ciência Estelar

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