domingo, 17 de julho de 2011

Corpus Cristi e o Esoterismo

As questões de natureza esotérica estão presentes no exotérico, ou seja, o intrínseco está contido no extrínseco, mesmo que não evidente ou explícito, até porque esta é a sua natureza. Da mesma forma as tradições culturais, principalmente as festividades, sejam elas as Festas Juninas, o Natal, a Páscoa, o Carnaval e o Corpus Cristi, mesmo em suas manifestações mais populares guardam princípios de natureza esotérica. Se nos detivermos com atenção e cuidado sobre o estudo das origens destas datas marcantes, encontraremos suas fundamentações em antigas e primitivas tradições iniciáticas.
A celebração de Corpus Cristi (ou Corpo de Cristo) é a festividade que celebra a “presença” real e substancial de Cristo (o “ungido” em grego e “messias” em hebraico) na Eucaristia (do grego “reconhecimento” ou “ação de graças” – celebração em memória da morte e ressurreição de Jesus Cristo).
Todos os feriados eclesiásticos (relativos à igreja), exceto o Natal, são calculados com base na Páscoa, que por sua vez é calculada de acordo com antigas tradições rotuladas como pagãs: o domingo de Páscoa ocorre no primeiro domingo após a primeira Lua Cheia após o Equinócio de Outono (Primavera no Hemisfério Norte); a Sexta-feira da Paixão é a sexta-feira que antecede o Domingo de Páscoa; a Terça-feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa. O Corpus Cristi é celebrado 60 dias após a Páscoa, podendo cair entre 21 e 24 de junho. Vale observar que por volta de 24 de junho (São João) é quando ocorre o Solstício de Inverno (no Hemisfério Sul), grande data marcante de antigos e primitivos festivais rotulados como pagãos.
Esotericamente, os Solstícios e os Equinócios são datas em que o plano espiritual está mais próximo do plano material. É quando estamos mais próximos dos “deuses” ou “anjos”, como queira, ou quando nossas preces são mais fáceis de atingir seus objetivos. Desde tempos imemoriais a humanidade festeja os Solstícios e Equinócios em honra à divindade.
No caso católico, existe um termo teológico para definir esta “manifestação de Cristo” nas duas hóstias que são consagradas (uma é consumida pelos fiéis e a outra permanece na comunidade como símbolo da presença de Deus). Este termo (grego) é a “Teofania” que se traduz por “manifestação de Deus em algum lugar, coisa ou pessoa”. Uma das mais destacadas teofanias relatadas na Bíblia foi quando Deus se manifestou a Moisés exortando-o a liderar a fuga do povo hebreu do Egito, conforme se encontra relatado em Êxodo 3.
O filósofo e historiador de religiões romeno Mircea Eliade cunhou uma palavra para distinguir a ação inspirada pelo divino em contraste com as ações comuns ou “profanas”. Trata-se da Hierofania (do grego “hieros”= sagrado + “faneia”=manifesto). Eliade afirma que o homem moderno tende a viver um mundo dessacralizado, mas que o homem primitivo vivia no mundo sagrado, na privacidade dos objetos sagrados que manifestavam o divino.
Mas, então, qual seria a “vantagem” em se viver ou festejar o divino, mesmo que apenas em algumas datas? Por mais que desejemos o Sagrado, vivemos em um mundo profano, carente deste Sagrado. O “Sagrado” representa o princípio de tudo, a origem, o começo. Então, o Sagrado é a Unidade Primordial, a Fonte da Existência e da Criação. Como Unidade e Princípio o Sagrado traz consigo a harmonia com as Leis Cósmicas, o verdadeiro Amor, a verdadeira Paz, a Luz mais profunda e límpida, imaculada. Ou seja, festejar o Sagrado é buscar de aproximar da Fonte de Saúde, Amor, Paz, Vida, Felicidade e Iluminação. É voltar ao seio do Pai, no colo da Mãe, retornar à condição de pureza virginal e não maculada.
Fernand Schwarz[1] comentando Mircela Eliade afirma sobre a hierofania que: “homem apreende a irrupção do sagrado no mundo e descobre assim a existência "de uma realidade absoluta, o sagrado que transcende este mundo, mas que nele se manifesta e, desse fato, o torna real".”
Conclui-se então, que o objetivo das festas religiosas como a de Corpus Cristi, por mais populares e aparentemente sem vínculos místicos ou maiores repercussões de natureza espiritual, é exatamente, de alguma forma, manifestar para a humanidade o Sagrado no mundo comum e assim trazê-lo à consciência da sociedade e da pessoa com o intuito final de tornar esta realidade espiritual também real no mundo objetivo e inundar a humanidade com seus princípios de paz, harmonia, amor, saúde, consciência, cidadania.

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