Vamos abordar aqui a razão da necessidade que temos de utilizar determinados utensílios, peças, roupas, orações, etc. na realização de rituais.
Algumas tradições esotéricas nos informam claramente que o poder criativo que temos está localizado no plano mental, que tudo que existe no universo é regido e pertence à mente e ao mundo das ideias.
A questão é que existem dois planos relativos à mente: o mental inferior e o mental superior. O mental inferior está ligado com o mundo das emoções e suas ilusões. É a mente concreta na qual um mais um é dois e pronto. Ela não permite inovação. Seu funcionamento ideal e perfeito, se não influenciado pelas emoções (o que geralmente é) funcionaria tal qual um potente computador que não falha, mas também não cria nada de novo, nada além do já conhecido. Esta mente não abre espaço para o imponderável, para uma visão diferente da que aprendeu até então. Ela se mostra “cega” para tudo que não possa entender em seu raciocínio analítico, maniqueísta, simples e objetivo. Ela não suporta “insigths” e novos conhecimentos.
Já a mente superior ou abstrata está relacionada com o plano búdico ou da consciência divina. O plano desta mente é o plano causal, onde residem as causas de tudo que ocorre nos planos abaixo de si. É nesta mente que ocorrem as criações, as inovações, as concepções que quebram paradigmas, a iluminação das ideias e a concepção inovadora das coisas. Com esta mente a pessoa vai além do entendimento das coisas, ela chega ao seu cerne e a compreende por completo. Compreender é participar daquilo que é observado, é se unir ao objeto e tornar-se parte dele, tendo a completa concepção e experiência do observado. Ou seja, compreender é ter uma visão clara pelo lado de dentro das coisas e pessoas. Enquanto o mental concreto se limita a definições que encaixotam o conhecimento, o mental abstrato expande sua visão transcendendo os limites das coisas e percebendo não só seu valor extrínseco como também seu valor intrínseco e seus relacionamentos com outras coisas gerando a verdadeira sabedoria. Este mental abstrato abre espaço para o imponderável, para o inovador, para o coletivo, para o abstrato, para aspecto imaginário do número complexo.
Existe um filme interessante que pode nos ajudar a compreender a necessidade que temos das coisas externas em um ritual. Trata-se do filme intitulado “Esfera”, estrelado por Dustin Hoffman, Samuel Ljackson e Sharon Stone. Em resumo, neste filme cientistas encontram no fundo do mar uma esfera que literalmente pode tornar real o que as pessoas estão pensando. Teoricamente isso seria uma maravilha e extremamente útil para toda a humanidade. Mas, a realidade retratada no filme evidencia o que acontece em nossa vida diária: tendemos a pensar somente em coisas ruins, catastróficas, negativas, etc. Psicologicamente falando, nossos medos, traumas, ilusões, etc. é que direcionam nosso pensamento. Ou seja, são as emoções invadindo o mundo da mente concreta. Após muito sofrimento, medo e esforço a tripulação de cientistas chegou à conclusão de que aquela esfera “mágica” deveria ser destruída ou ocultada em definitivo da humanidade porque esta não estava pronta para aquele verdadeiro “presente”, tenha vindo de Deus ou de extraterrestres.
De fato é assim, perceba leitor no que você mais pensa durante o dia todo, todos os dias. O medo geralmente toma nossa mente com pensamentos ruins do tipo: posso não ter dinheiro para pagar as contas, meus filhos podem ficar doentes ou acontecer algum acidente com eles, meu chefe pode me despedir, o governo pode me pegar na “malha fina” do Imposto de Renda, posso ser assaltado a qualquer momento, meu carro pode ser roubado, se chover vou ser pego de surpresa porque estou sem guarda-chuva, sou um pecador e posso ser vítima da cólera de Deus, será que quando eu morrer vou para o Inferno?, etc.. Já pensou se tudo isso se realiza?
Bem, por isso precisamos de coisas externas para “fixar” nossa mente, não deixá-la a mercê de influências psíquicas que possam influenciar negativamente os objetivos e a própria natureza de um ritual ou busca de “sintonia” com a Perfeição ou divindade, tenha ela o nome que tiver.
Aí reside o valor extrínseco das coisas. Por isso é importante o uso de velas, vestimentas, orações, utensílios tais como castiçal, hóstia, espada, cajado, talismãs, tudo que envolve os rituais de todo tipo de profissão de fé.
Quando se faz uma determinada oração, para uma determinada divindade buscando um determinado objetivo utilizam-se coisas materiais, externas à pessoa, que guardem sintonia ou relação com tudo com o qual a pessoa internamente, ou intrinsecamente, está buscando harmonia. O resultado é que a pessoa “vê” e pode tocar materialmente sua vontade e fé materializados. Ou seja, se um pensamento negativo atingir a pessoa ela olha para o altar, por exemplo, e verá lá seu desejo expresso e materializado, sem qualquer alteração ou mudança e assim tem a certeza e segurança de que seus esforços não foram em vão e que seu desejo segue conforme foi originalmente concebido. Enquanto a vela estiver acesa, por exemplo, a pessoa sente como se ela mesma estivesse lá fazendo as orações, em sintonia com a divindade. É uma forma de aumentar o tempo de “concentração mental e postural” da pessoa em relação a um desejo pessoal para com algo de natureza espiritual.
Uma pessoa que não permite que suas emoções afetem sua mente não necessita destes recursos externos para cristalizar e concentrar sua vontade. Mas, quem consegue isso?
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