Falando em termos espirituais, todas as práticas devocionais, sejam religiões ou não, adotam os rituais. Isso ocorre deste tempos remotos, muito antes da chamada “civilização” existir.
Antropologicamente o ser humano concebeu os rituais como forma de memorizar e reviver uma situação de natureza espiritual superior e desejável com o objetivo de regularmente realinhar sua vida com a divindade. O resultado esperado é claramente a evolução espiritual, a paz, a harmonia, a saúde, a vida plena e a iluminação pessoal.
Apesar de ter sido concebido, implementado e praticado por ditos “primitivos” os rituais são na verdade um eficiente recurso tanto de memorização quanto de comunicação em massa de conceitos mitológicos ou doutrinários para pessoas simples e sem conhecimento profundo das bases de suas fés postuladas. Geralmente o ritual retrata passagens importantes da exegese ou cosmogonia relativas à crença professada pela pessoa.
O intuito desta a lembrança, divulgação e uma certa teatralização espiritual é o realinhamento místico com a fonte da vida visto que a vida comum e seus cobranças e pressões tendem a nos desviar dos valores, conceitos e práticas mais elevadas e harmônicas.
Como teatralização o ritual se aproxima muito do conceito moderno do Psicodrama criado por Moreno, uma importante técnica de terapia psicológica de grupo em que os dramas pessoais são descritos pelo paciente e teatralizados pelos outros pacientes com o objetivo de se reviver situações críticas e elaborar psicologicamente melhores formas de se lidar com elas. Os rituais seriam então um Psicodrama mitológico em que aqueles que o assistem revivem regularmente o drama ou situação de relevância para o culto.
O rito é a forma como esta teatralização, este ritual, é executado. Seu conceito então é mais prático, limitado e objetivo. Visa normatizar o ritual, padroniza-lo evitando desvios, alterações, equívocos e até mesmo esquecimento ou variações de natureza pessoal por parte do oficiante. Isso contribui para a perpetuação do rito em benefício tanto da ideia espiritual que expressa quanto das pessoas que dele se beneficiam.
Existem rituais presentes em todas as demonstrações de fé tais como a Umbanda/Candomblé, religiões orientais (Índia, Japão, etc.) e também Católica. Pelo exemplo mais fácil de se presenciar a religião Católica é repleta de rituais sendo que se pode citar com alguns importantes como sendo a Missa, o suplício e morte de Jesus Cristo. Até mesmo as festas do Natal, da Páscoa, as festas Juninas, Corpus Cristi e do Carnaval podem ser consideradas como rituais católicos. Todas estas festas fazem parte do calendário eclesiástico e são calculadas e determinadas pela Igreja Católica, até mesmo o Carnaval.
Mas, estas festas teoricamente católicas foram adotadas pelo catolicismo de antigas e primitivas tradições de cultos que celebravam os ciclos da natureza. A Páscoa, por exemplo, era celebrada como Pessach pelos judeus (êxodo israelense do Egito) e Eostre ou Ostera (“Deusa da Aurora” = planeta Vênus). Também era uma prática habitual a um antigo ritual da deusa Ishtar ou Astarte (da fertilidade).
Os ditos “primitivos” ou “pagãos” de todas as eras realizavam os rituais à natureza e seus ciclos, celebrados principalmente nos equinócios e solstícios[1]. Assim podemos encontrar concordância de rituais entre diversas religiões, com nomes diferentes, mas de conteúdo ou mensagem semelhantes, nestas datas que são geralmente nos dias 22 de março, 22 de junho, 23 de setembro e 21 de dezembro.
O Natal[2], por exemplo, não é reconhecido como a data real e verdadeira de nascimento de Jesus, o Cristo. Conforme o Almanaque Romana o Natal era celebrado pela cristandade primitiva em 336 d.C., mas o dia era 7 de janeiro, hoje Dia dos Reis Magos, que era o dia de seu batismo e epifania. No século IV as igrejas ocidentais passaram a adotar o dia 25 de dezembro para o Natal buscando cristianizar festividades tidas como pagãs. Este dia foi escolhido para coincidir com a festividade romana dedicada ao “nascimento do Sol Invencível” conhecida como Saturnália [3]e que era comemorada entre 17 a 22 de dezembro. Esta data ou período abrigava a troca de presentes e muita alegria, pois se festejava o nascimento do Sol da Virtude, o deus persa Mitra.
Já na antiga religião Wicca (praticada, por exemplo, pelo Mago Merlin do mito do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda) existe a chamada “Roda do Ano[4]” que contempla as Festas Rituais de Yule em 21 de dezembro, a Festa do Fogo (Noite de Brigit, Candlemas, Imbolc, Oimelc) em 2 de fevereiro, Ostara em 21 de Março, Beltane (Rudemasd, Walpurgisnacht) em 1º de maio, Litha em 21 de junho, Lamas (Lughnasad ou Festa da Colheita) em 1º de agosto, Mabon em 21 de setembro, Samhain ou Halloween em 31 de outubro.
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