Conforme Jean Lauand[1],
professor titular da FEUSP, IJI, Universidade do Porto:
A doutrina dos vícios
capitais é fruto de um empenho de organizar a experiência antropológica cujas
origens remontam a João Cassiano e Gregório Magno, que têm em comum
precisamente esse voltar-se para a realidade concreta.
Este autor afirma que São Tomás de Aquino relaciona os sete
pecados capitais: vaidade, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e acídia. Hoje,
segundo ele a Igreja coloca soberba em lugar de vaidade e preguiça em lugar de
acídia.
Da preguiça já discorremos um pouco no artigo anterior.
Vamos agora nos deter um pouco sobre a soberba que é tida por São Tomás de
Aquino como um pecado supra capital. Conforme Lauand, a soberba é a rainha de
todos os pecados porque é a recusa da superioridade de Deus e da busca da
excelência e do bem.
Ora, o inverso do pecado[2]
ou vício é a virtude. Dante Alighieri, em sua obra “Divina Comédia” também nos
fala dos sete pecados capitais e as sete virtudes. Desde crianças aprendemos
com contos de fadas sobre este setenário, como é apresentado na fábula de
Branca de Neve e os Sete Anões.
Alguns astrólogos[3]
costumam relacionar este setenário moral com os sete planetas esotéricos de
forma que se pode identificar qual ou quais é mais evidente na pessoa:
À Avareza ou Cobiça se contrapõe
o Altruísmo, relacionadas com Saturno;
À Gula ou Esbanjamento se
contrapõe a Temperança ou Equilíbrio, relacionadas com Júpiter;
À Cólera ou Ira se contrapõe o
Amor, relacionadas com Marte;
Ao Orgulho ou Soberba se
contrapõe a Humildade ou a Generosidade, relacionadas com Sol;
À Luxúria ou Concupiscência se
contrapõe a Castidade, relacionadas com Vênus;
À Inveja ou Cobiça se contrapõe a
Alegria, relacionadas com Mercúrio;
À Preguiça se contrapõe a
Diligência, relacionadas com Lua.
Voltando ao “pecado capital mor”, o Orgulho ou Soberba
deseja e tudo faz para que tudo gire ao seu redor, ao passo que a virtude
análoga ao planeta Sol é exatamente o oposto, de irradiação generosa e humilde.
É uma questão de ótica, uma no sentido centrípeto e outra no sentido
centrífugo, uma suástica e outra sowástica[4].
Ou seja, se o centro (ou pessoa) tem potencial divino, ele irradia de forma
natural, gentil e constante, sem cobrança ou expectativas, o melhor de si. Caso
contrário, se o centro deseja ser tratado como divino (porque certamente não o
é, se o fosse não agiria assim), então espera que tudo lhe venha aos pés e que
ele seja o centro das atenções.
Não podemos nos confundir com as diferentes formas de
orgulho. Algumas se ocultam sob o véu de
uma pseudo humildade, como é o caso de Antístenes, filósofo grego que pregava a
humildade e a pobreza e que foi advertido pelo seu mestre, Sócrates, ao vê-lo
expondo propositalmente os buracos rasgados: “Antístenes, vejo o teu orgulho
através dos buracos da tua roupa”.
Este tipo de Orgulho, o dissimulado, é o pior e o mais
perigoso, mais sorrateiro, traiçoeiro. Talvez a dissimulação possa ser incluída
neste “pecado”, visto que é uma afronta à verdade, ao que é justo. A
dissimulação não dá direito ao outro de se defender. É um crime contra a luz,
um caminho para as sombras.
Uma pequena dose de orgulho, assim como dos demais “pecados
capitais” não só é natural como até desejável, visto que nos são exigidos
socialmente. Imagine um palestrante, ou padre, ou professor, muito humilde e
generoso. Ele certamente será bem visto, mas talvez não consiga empolgar seus
ouvintes, não falará alto ao coração e almas das pessoas. É preciso ter um
pouco de humanidade ou imperfeição em si para poder fazer com que as demais
pessoas se identifiquem consigo e assim estabelecer uma comunicação efetiva. É
preciso falar a mesma língua, utilizar dos mesmos símbolos e valores para
influenciar os demais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário