quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O hedonismo e o estoicismo na vida prática cotidiana


Continuando o assunto iniciado em meu texto anterior, vamos ampliar um pouco mais este assunto e verificar os possíveis desdobramentos e consequências destes comportamentos na nossa vida.
É comum vermos pais que trabalham duro, que não se permitem o descanso ou mesmo o gozo do mínimo que conquistaram. Muitos sequer se permitem desfrutar de férias junto à família, ter momentos de lazer em viagens. Talvez pressionados pelos valores capitalistas atuais que nos conduzem à consciência de que quem quer se dar bem na vida precisa acumular riquezas o máximo que puder. Somente desta forma se sentem aptos a enfrentar a constante cobrança e comparação de poder econômico que a sociedade silenciosa, mas terrivelmente, realiza sobre todos. Os homens sempre se gabam de quem tem o melhor carro, quem fez a melhor compra, quem levou mais vantagens nos negócios, etc. As mulheres se gabam de quem fez a melhor cirurgia plástica, quem tem o melhor implante de silicone, quem comprou o melhor e mais caro vestido de marca. Este é o único prazer a que se permitem: exibir suas conquistas, divulgar seus feitos para os outros, se sentir melhor ou no mínimo igual aos colegas.
Estes mesmos pais, em vista do empenho exagerado para o trabalho e os ganhos, deixam de lado muitas vezes a vida familiar, o lazer e, principalmente a educação de seus filhos. A consequência natural é uma família pronta para ser desestruturada, cuja casa é dirigida pelos ajudantes domésticos. Seu lar tende a ser repleto de relíquias ou adornos da moda, mas totalmente carentes da personalidade e identidade de seus donos. Talvez eles mesmo não sabem o que são ou buscam, pois se dedicam a saber com precisão o que os outros gostam e aprovam, o que está na moda e o que é socialmente mais adequado. O excesso de trabalho e pouco lazer geralmente deságuam em problemas de saúde, tanto física quanto psicológica. Os problemas conjugais também costumam vir junto, afastando cada vez mais o núcleo familiar. A educação dos filhos fica relegada à responsabilidade dos ajudantes doméstico e às escolas que os pais acreditam estar pagando para educar seus filhos. Quando podem estes pais tendem a demonstrar seu carinho e amor aos filhos com presentes e mais presentes, tentando compensar a falta de tempo e disposição para uma conversa íntima, carinhosa e franca com seus pupilos.
Talvez este seja o pior do cenário que um comportamento estoico mal interpretado pode oferecer. Me parece, posso estar equivocado, que este tipo de “educação” (ou falta dela) por parte dos pais geralmente resulta em dois tipos diferentes de comportamento por parte dos filhos: ou eles adotam o modelo de seus pais, ou se acostumam com a falta de intimidade, afeto e respeito, bem como com o ganhar fácil coisas de natureza material para constantemente se dedicarem a coisas agradáveis, fáceis e sem complicação. Afinal, seus pais sempre resolvem seus problemas. Quando se tornam adolescentes, estes jovens não gostam de ter que se esforçar nos estudos, falta respeito para com professores e até mesmo objetivo na vida. Inconscientemente sentem como que seus pais fossem viver para sempre para resolver seus problemas, lhe darem “tudo na boca” e facilitarem sua vida. Ou seja, estes jovens tendem a viver o pior cenário de um comportamento hedonista mal compreendido.
Muito do que vemos na sociedade é este cenário: pais equivocadamente estoicos gerando filhos equivocadamente hedonistas.
O resultado é fácil de prever: os pais adoecem ou falecem, os filhos dilapidam tudo aquilo que os pais duramente conquistaram, desde fortuna até mesmo respeito social e amizades. Isso quando os jovens não aceitam que o poder de ser fonte do prazer e de facilidades dos pais é limitado e se voltam violentamente contra eles. Isso vemos todos os dias nos jornais impressos ou televisivos, no rádio e na Internet.
A família e seu conceito está deteriorada, fragilizada. Nossa cultura e sociedade está chegando em seu horizonte de evento, no ponto máximo possível de se chegar em termos de consequências ou resultados. Não podemos culpar “A” ou “B”, o governo, os religiosos, a polícia o seja lá quem for. Nós é que aceitamos este tipo de vida, estes valores, esta moral, estas condutas. Precisamos parar de colocar a culpa ou a responsabilidade sobre os ombros dos outros. Precisamos olhar no espelho e não ter preguiça de pensar um pouco, de refletir sobre onde este nosso comportamento irá nos levar, quais as consequências que irão resultar. Já temos maturidade para deixar de lado ao jogo de viver a vida achando que só o de melhor irá nos acontecer, é tapar o sol com a peneira, fugir das responsabilidades e consequências. Este é um pensamento muito imaturo, digno de uma criança ou adolescente. A humanidade precisa crescer.
O pensamento de que nada de ruim nos irá acontecer está presente na mente de empresários que desconsideram a poluição que causam, que a concentração de renda suga da sociedade seu meio de vida e isso terá um fim, que a exploração acaba com a saúde de seus funcionários e adoentados não poderão mais trabalhar um dia. O mesmo acontece com governantes que não priorizam o social, estes mesmos governantes que dizem cuidar “da coisa pública pelo bem de todos” acabam na verdade governando em prol de pequenos grandes grupos econômicos.
Vivemos hoje o pior possível tanto do estoicismo quanto do hedonismo em nossa sociedade.

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