Continuando o assunto iniciado em meu texto anterior, vamos
ampliar um pouco mais este assunto e verificar os possíveis desdobramentos e
consequências destes comportamentos na nossa vida.
É comum vermos pais que trabalham duro, que não se permitem
o descanso ou mesmo o gozo do mínimo que conquistaram. Muitos sequer se
permitem desfrutar de férias junto à família, ter momentos de lazer em viagens.
Talvez pressionados pelos valores capitalistas atuais que nos conduzem à
consciência de que quem quer se dar bem na vida precisa acumular riquezas o
máximo que puder. Somente desta forma se sentem aptos a enfrentar a constante
cobrança e comparação de poder econômico que a sociedade silenciosa, mas terrivelmente,
realiza sobre todos. Os homens sempre se gabam de quem tem o melhor carro, quem
fez a melhor compra, quem levou mais vantagens nos negócios, etc. As mulheres
se gabam de quem fez a melhor cirurgia plástica, quem tem o melhor implante de
silicone, quem comprou o melhor e mais caro vestido de marca. Este é o único
prazer a que se permitem: exibir suas conquistas, divulgar seus feitos para os
outros, se sentir melhor ou no mínimo igual aos colegas.
Estes mesmos pais, em vista do empenho exagerado para o
trabalho e os ganhos, deixam de lado muitas vezes a vida familiar, o lazer e,
principalmente a educação de seus filhos. A consequência natural é uma família
pronta para ser desestruturada, cuja casa é dirigida pelos ajudantes
domésticos. Seu lar tende a ser repleto de relíquias ou adornos da moda, mas
totalmente carentes da personalidade e identidade de seus donos. Talvez eles
mesmo não sabem o que são ou buscam, pois se dedicam a saber com precisão o que
os outros gostam e aprovam, o que está na moda e o que é socialmente mais
adequado. O excesso de trabalho e pouco lazer geralmente deságuam em problemas
de saúde, tanto física quanto psicológica. Os problemas conjugais também
costumam vir junto, afastando cada vez mais o núcleo familiar. A educação dos
filhos fica relegada à responsabilidade dos ajudantes doméstico e às escolas
que os pais acreditam estar pagando para educar seus filhos. Quando podem estes
pais tendem a demonstrar seu carinho e amor aos filhos com presentes e mais
presentes, tentando compensar a falta de tempo e disposição para uma conversa
íntima, carinhosa e franca com seus pupilos.
Talvez este seja o pior do cenário que um comportamento
estoico mal interpretado pode oferecer. Me parece, posso estar equivocado, que
este tipo de “educação” (ou falta dela) por parte dos pais geralmente resulta
em dois tipos diferentes de comportamento por parte dos filhos: ou eles adotam
o modelo de seus pais, ou se acostumam com a falta de intimidade, afeto e
respeito, bem como com o ganhar fácil coisas de natureza material para
constantemente se dedicarem a coisas agradáveis, fáceis e sem complicação.
Afinal, seus pais sempre resolvem seus problemas. Quando se tornam
adolescentes, estes jovens não gostam de ter que se esforçar nos estudos, falta
respeito para com professores e até mesmo objetivo na vida. Inconscientemente
sentem como que seus pais fossem viver para sempre para resolver seus
problemas, lhe darem “tudo na boca” e facilitarem sua vida. Ou seja, estes
jovens tendem a viver o pior cenário de um comportamento hedonista mal
compreendido.
Muito do que vemos na sociedade é este cenário: pais
equivocadamente estoicos gerando filhos equivocadamente hedonistas.
O resultado é fácil de prever: os pais adoecem ou falecem,
os filhos dilapidam tudo aquilo que os pais duramente conquistaram, desde
fortuna até mesmo respeito social e amizades. Isso quando os jovens não aceitam
que o poder de ser fonte do prazer e de facilidades dos pais é limitado e se
voltam violentamente contra eles. Isso vemos todos os dias nos jornais
impressos ou televisivos, no rádio e na Internet.
A família e seu conceito está deteriorada, fragilizada.
Nossa cultura e sociedade está chegando em seu horizonte de evento, no ponto
máximo possível de se chegar em termos de consequências ou resultados. Não
podemos culpar “A” ou “B”, o governo, os religiosos, a polícia o seja lá quem
for. Nós é que aceitamos este tipo de vida, estes valores, esta moral, estas
condutas. Precisamos parar de colocar a culpa ou a responsabilidade sobre os
ombros dos outros. Precisamos olhar no espelho e não ter preguiça de pensar um
pouco, de refletir sobre onde este nosso comportamento irá nos levar, quais as
consequências que irão resultar. Já temos maturidade para deixar de lado ao
jogo de viver a vida achando que só o de melhor irá nos acontecer, é tapar o
sol com a peneira, fugir das responsabilidades e consequências. Este é um
pensamento muito imaturo, digno de uma criança ou adolescente. A humanidade
precisa crescer.
O pensamento de que nada de ruim nos irá acontecer está
presente na mente de empresários que desconsideram a poluição que causam, que a
concentração de renda suga da sociedade seu meio de vida e isso terá um fim,
que a exploração acaba com a saúde de seus funcionários e adoentados não
poderão mais trabalhar um dia. O mesmo acontece com governantes que não
priorizam o social, estes mesmos governantes que dizem cuidar “da coisa pública
pelo bem de todos” acabam na verdade governando em prol de pequenos grandes grupos
econômicos.
Vivemos hoje o pior possível tanto do estoicismo quanto do
hedonismo em nossa sociedade.
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