terça-feira, 21 de agosto de 2012

O Ser e o Estar


Estas duas condições acabam se confundindo na cabeça da maioria das pessoas. Isto ocorre não porque os sentidos das palavras sejam muito próximos, mas sim porque geralmente julga-se as coisas, fatos e pessoas por suas aparências, por aquilo que nos é apresentado aos olhos. Poucas pessoas se dão ao trabalho (é realmente um trabalho, exige uso de energia e consciência) de procurar ir além das aparências, de buscar a origem e não se contentar apenas com o fato em si.

A visão é um dos sentidos mais usados e que mais alimenta nossa condição intelectual de raciocínio e consequentemente nossa capacidade de julgamento e decisão. Mas, o fato de que o que vimos ante nossos olhos, pelo reflexo da luz é algo óbvio convence a quase todos de que o que os olhos vêem é a verdade, nada mais que a verdade.
Os mágicos já nos provaram que não é bem assim. Os místicos sempre disseram que aquilo que normalmente nos chega aos sentidos é mera ilusão, Maya. De acordo com a biologia, a visão nada mais é do que a tradução que nosso cérebro faz do reflexo da luz. Se houver algum problema com os meios biológicos que captam a luz ou que levam os estímulos nervosos da visão até o cérebro, ou mesmo no próprio cérebro, o sentido da visão estará prejudicado. Normalmente usamos o termo visão não só para o sentido físico ou biológico mas também à capacidade que alguns têm de compreender o possível desenrolar de fatos ou o interior de coisas ou pessoas. É a esta visão que Jesus fazia referência quando disse “aqueles que têm olhos, que vejam!”.
É justamente esta capacidade de ver além do imediato, das aparências, dos reflexos, da ilusão é que pode nos descortinar definitivamente e de uma forma insofismável a diferença que existe entre o Ser e o Estar.
É a diferença entre o amador e o profissional, entre o estudante e o iniciado. Isto se aplica tanto no universo dos relacionamentos sociais e profissionais quanto no plano esotérico. O fato de uma pessoa ter passado por tal ou qual ritual, seja em que escola for, não significa que ela foi iniciada. Ela pode muito bem estar tal ou qual grau mas ser uma pessoa comum como as ditas profanas. Ou seja, esta pessoa apesar de conhecer teoricamente muita coisa de uma determinada escola iniciática não a sente, não a compreende e não a vive. O fato de se “estar” denota interesse apenas, é circunstancial, passageiro. O “ser” faz a gente “vestir a camisa”, se doar, se entregar. É certo que perfeição não existe neste plano, que todos estamos vivendo um grande processo de evolução e que isto não nos dá o direito de julgar.
A distinção entre o que “é” e o que “está” é muito simples para ser realizada. O que “está” tem as referências escritas como regra máxima e incontestável. Aquele que “é” compreende as regras escritas bem como as razões que as levaram a ser tomadas e por isto mesmo não se sente pressionado pelas mesmas e nem limitado. Aquele que “está” valoriza as manifestações físicas da hierarquia, tais como um grau, uma medalha, um título, etc.. A pessoa que “é” valoriza as manifestações de conteúdo, tanto de si quanto de outrem, é capaz de aprender com aquele que está em grau abaixo do seu e nem por isto se sentirá ofendido.
Existem pois duas realidades, duas escolas iniciáticas: a Escola de quem É; e a Escola de quem Está. A Escola de quem Está, por ser maior e fisicamente mais sólida, serve de sustentáculo à Escola de quem É. Sempre, no plano físico, em toda Escola de Mistérios ou Esotérica, haverão na verdade duas escolas convivendo paralelamente, uma “de direito” e outra “de fato”, uma “para os profanos verem e se regularem” e a outra “para o iniciado evoluir, se fraternizar e se proteger”. A Escola de quem Está é visível, a Escola de quem É é invisível, pelo menos aos olhos do vulgo.
Se nos incomodamos com os outros ao nosso lado quanto a poder, influência, domínio e conhecimento, estamos na Escola de quem Está. Caso nos ocupemos de nos melhorarmos, independentemente de estímulos, de compreender a limitação alheia e de agir dentro de um princípio que respeite o outro, aí sim somos da Escola de quem É. Se levamos ao pé da letra a cartilha escrita na letra morta do papel, estamos. Se compreendemos a transcendência, a origem e o fim das instruções grafadas na cartilha, aí somos.
Quem “está” repete frases lidas qual um papagaio que não sabe do que está falando e nem as razões das afirmações que faz. Quem é tem suas próprias idéias, opiniões, conceitos e nem por isto se distancia do que os mestres disseram. Isto ocorre porque aqueles que “são” bebem sempre da mesma fonte, da Verdade, nem sempre desejada e aceita pelos não iniciados ou por aqueles que “estão”. A Verdade é como uma Luz que pode ser prismada em várias cores mas mesmo assim, apesar das sutis diferenças, ainda é a mesma Luz só que multifacetada. Seus componentes não lutam entre si, jamais, pois irmanam-se na unidade luminosa.
O fato de “ser” nos leva a reverenciar a Luz, o fato de “estar” nos faz adorar os reflexos.

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