A Preguiça é listada como um dos sete “pecados” capitais. Listada
por São Tomás de Aquino[1]
como “acídia” a preguiça, segundo ele “A acídia é aquela tristeza modorrenta do
coração que não se julga capaz de realizar aquilo para que Deus criou o homem.
Essa modorra mostra sempre sua face fúnebre, onde quer que o homem tente
sacudir a ontológica e essencial nobreza de seu ser como pessoa e suas obrigações
e sobretudo a nobreza de sua filiação divina: isto é, quando repudia seu
verdadeiro ser!”
Sem dúvida, assim colocada é um verdadeiro desvio da
natureza humana no que se refere à sua criação como Filho de Deus.
Mas, em nosso cotidiano, neste mundo capitalista de
constante e ferrenha competição, a contemplação, a reflexão e momentos
dedicados à Filosofia geralmente são rotulados como de preguiça.
Vale lembrar que o período em que a humanidade mais produziu
pessoas com pensamentos superiores foi na antiga Grécia. Tanto assim é que até
hoje os filósofos gregos [2]são
citados em peças acadêmicas. Foi a época do “ócio criativo” ou sagrado. Foram
eles, os filósofos gregos que muito contribuíram com as artes, a matemática, a
história, a geografia, a medicina e, principalmente, com o desenvolvimento do
conceito de democracia.
Nomes como Tales, Anaxímenes, Anaximandro, Platão, Sócrates,
Pitágoras figuram entre os grandes pensadores que até hoje não foram alcançados
pelos modernos cientistas. Muitos deles debatiam nas praças as possibilidades e
limites da existência como um todo. Este tipo de atividade hoje certamente é
taxado de “vagabundice”, “falta de trabalho” ou simplesmente como “preguiça de
trabalhar”. Assim sofrem perseguição e rotulação as pessoas mais voltadas para
as artes em geral, a filosofia ou a contemplação.
É importante lembrar que as pessoas são diferentes entre si
e naturalmente podem ser identificados quatro tipos básicos de pessoas.
Independente de nomenclaturas é flagrante para qualquer pessoa que um contador
ou um militar comum dificilmente se dará bem se optar por se tornar um padre ou
pastor.
Talvez a preguiça mais tenebrosa seja a preguiça de pensar
por si próprio, de refletir, de formar sua própria opinião. Este tipo de
preguiça mental se espalha por todo o globo e prejudica a independência, a
autonomia, a maturidade e a evolução humana. A preguiça mental nos conduz às
explicações dadas por terceiros e sua aceitação sem qualquer questionamento ou
reflexão. Transformam-se nos dogmas[3]
que inocentemente são seguidos e em seus nomes as pessoas cometem todo tipo de
desatino e injustiça. Isso está presente não só no seio das religiões, mas
também na banalidade do dia-a-dia quando as pessoas preferem, por exemplo,
notícias já “mastigadas” e explicadas por um apresentador de telejornal. É mais
confortável e menos trabalhoso ouvirmos a opinião de outra pessoa que se
informou, tem lá suas tendências e preferências e, portanto, emite opiniões
tendenciosas. Isso é doutrinação.
Ora, a doutrina é aliada ou sócia do dogma; ela uma
determinada interpretação específica que fecha questão somente naquela
interpretação e o dogma não permite que se questione esta interpretação. Toda
interpretação humana é limitada, imperfeita e, portanto passível de erro, equívoco,
manipulação ou mesmo desvio. Ou seja, deveria sim ser constantemente posta em
cheque sob risco de prejudicar a evolução, desenvolvimento e compreensão
daqueles que a segue.
Aqui no Brasil a leitura não é um hábito da maioria da
população. Possivelmente você que está lendo este artigo não padece deste
“pecado” que é a preguiça de pensar. Isso porque neste espaço discutimos
ideias, estimula-se o pensar, o refletir e, principalmente, a construção de
suas próprias opiniões e posicionamentos perante os fatos da vida. Aqueles que
têm preguiça de pensar tendem a dizer “isso é muito complicado para mim” ou
simplesmente desdenham dizendo algo como “isso é coisa de quem não tem o que
fazer” ou “isso é viagem de quem usa drogas” ou ainda “tenho mais do que me preocupar
do que ficar filosofando”, por exemplo. Mas, estas pessoas não sabem que se não
pensarem por si mesmas, acabarão seguindo o pensamento de outros mais espertos
e serão manipulados como verdadeiras marionetes. Isso ocorre em todos os
campos, seja nas religiões, seja nos negócios, seja na política, seja no
relacionamento social.
O psicólogo Willian Reich [4]escreveu
uma obra com o título “Escuta Zé Ninguém[5]”
na qual ele dá um verdadeiro choque no leitor que não pensa por si mesmo. Este
autor também escreveu um outro livro intitulado “O assassinato de Cristo[6]”
no qual afirma que se Jesus nascesse novamente hoje a turba novamente o
condenaria à morte por não pensar por si mesma e optar por seguir seus líderes
sem questionar. Platão também abordou o problema em sua alegoria conhecida como
“O Mito da Caverna[7]”.
Se considerarmos que muito do que se rotula como “preguiça”
na verdade é perseguição e um verdadeiro preconceito ao pensamento, uma
preguiça de pensar, podemos dizer que sim, existe o lado bom da preguiça.
[6]http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&ved=0CDAQFjAB&url=http%3A%2F%2Farcaliteraria.org%2Farcaliteraria%2Fwp-content%2Fuploads%2F1370%2FWilhelm_Reich_-_O_Assassinato_de_Cristo_(pdf)(rev)%255B1%255D.pdf&ei=YWZzT8r1M8yItwfHlpmNBg&usg=AFQjCNEe5YEyIcIQHPia2mxwsh3ZPAn3Fw&sig2=mDigcd2sevKmb9EGD8p1dA
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