quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Preguiça – existe seu lado bom?


A Preguiça é listada como um dos sete “pecados” capitais. Listada por São Tomás de Aquino[1] como “acídia” a preguiça, segundo ele “A acídia é aquela tristeza modorrenta do coração que não se julga capaz de realizar aquilo para que Deus criou o homem. Essa modorra mostra sempre sua face fúnebre, onde quer que o homem tente sacudir a ontológica e essencial nobreza de seu ser como pessoa e suas obrigações e sobretudo a nobreza de sua filiação divina: isto é, quando repudia seu verdadeiro ser!”
Sem dúvida, assim colocada é um verdadeiro desvio da natureza humana no que se refere à sua criação como Filho de Deus.
Mas, em nosso cotidiano, neste mundo capitalista de constante e ferrenha competição, a contemplação, a reflexão e momentos dedicados à Filosofia geralmente são rotulados como de preguiça.
Vale lembrar que o período em que a humanidade mais produziu pessoas com pensamentos superiores foi na antiga Grécia. Tanto assim é que até hoje os filósofos gregos [2]são citados em peças acadêmicas. Foi a época do “ócio criativo” ou sagrado. Foram eles, os filósofos gregos que muito contribuíram com as artes, a matemática, a história, a geografia, a medicina e, principalmente, com o desenvolvimento do conceito de democracia.
Nomes como Tales, Anaxímenes, Anaximandro, Platão, Sócrates, Pitágoras figuram entre os grandes pensadores que até hoje não foram alcançados pelos modernos cientistas. Muitos deles debatiam nas praças as possibilidades e limites da existência como um todo. Este tipo de atividade hoje certamente é taxado de “vagabundice”, “falta de trabalho” ou simplesmente como “preguiça de trabalhar”. Assim sofrem perseguição e rotulação as pessoas mais voltadas para as artes em geral, a filosofia ou a contemplação.
É importante lembrar que as pessoas são diferentes entre si e naturalmente podem ser identificados quatro tipos básicos de pessoas. Independente de nomenclaturas é flagrante para qualquer pessoa que um contador ou um militar comum dificilmente se dará bem se optar por se tornar um padre ou pastor.
Talvez a preguiça mais tenebrosa seja a preguiça de pensar por si próprio, de refletir, de formar sua própria opinião. Este tipo de preguiça mental se espalha por todo o globo e prejudica a independência, a autonomia, a maturidade e a evolução humana. A preguiça mental nos conduz às explicações dadas por terceiros e sua aceitação sem qualquer questionamento ou reflexão. Transformam-se nos dogmas[3] que inocentemente são seguidos e em seus nomes as pessoas cometem todo tipo de desatino e injustiça. Isso está presente não só no seio das religiões, mas também na banalidade do dia-a-dia quando as pessoas preferem, por exemplo, notícias já “mastigadas” e explicadas por um apresentador de telejornal. É mais confortável e menos trabalhoso ouvirmos a opinião de outra pessoa que se informou, tem lá suas tendências e preferências e, portanto, emite opiniões tendenciosas. Isso é doutrinação.
Ora, a doutrina é aliada ou sócia do dogma; ela uma determinada interpretação específica que fecha questão somente naquela interpretação e o dogma não permite que se questione esta interpretação. Toda interpretação humana é limitada, imperfeita e, portanto passível de erro, equívoco, manipulação ou mesmo desvio. Ou seja, deveria sim ser constantemente posta em cheque sob risco de prejudicar a evolução, desenvolvimento e compreensão daqueles que a segue.
Aqui no Brasil a leitura não é um hábito da maioria da população. Possivelmente você que está lendo este artigo não padece deste “pecado” que é a preguiça de pensar. Isso porque neste espaço discutimos ideias, estimula-se o pensar, o refletir e, principalmente, a construção de suas próprias opiniões e posicionamentos perante os fatos da vida. Aqueles que têm preguiça de pensar tendem a dizer “isso é muito complicado para mim” ou simplesmente desdenham dizendo algo como “isso é coisa de quem não tem o que fazer” ou “isso é viagem de quem usa drogas” ou ainda “tenho mais do que me preocupar do que ficar filosofando”, por exemplo. Mas, estas pessoas não sabem que se não pensarem por si mesmas, acabarão seguindo o pensamento de outros mais espertos e serão manipulados como verdadeiras marionetes. Isso ocorre em todos os campos, seja nas religiões, seja nos negócios, seja na política, seja no relacionamento social.
O psicólogo Willian Reich [4]escreveu uma obra com o título “Escuta Zé Ninguém[5]” na qual ele dá um verdadeiro choque no leitor que não pensa por si mesmo. Este autor também escreveu um outro livro intitulado “O assassinato de Cristo[6]” no qual afirma que se Jesus nascesse novamente hoje a turba novamente o condenaria à morte por não pensar por si mesma e optar por seguir seus líderes sem questionar. Platão também abordou o problema em sua alegoria conhecida como “O Mito da Caverna[7]”.
Se considerarmos que muito do que se rotula como “preguiça” na verdade é perseguição e um verdadeiro preconceito ao pensamento, uma preguiça de pensar, podemos dizer que sim, existe o lado bom da preguiça.

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